Capítulo 13
Flávio pensou estar sonhando novamente, mas em um cenário novo.
- Marcela! – exclamou Flávio. Seus olhos brilhavam.
Marcela não sabia o que fazer. Estava ali, diante do amor da sua vida, o amor que ela sempre julgou como fantasioso, e que achava ter perdido para sempre.
Ele era real. Ele estava vivo. Uma lágrima caiu do olho de Marcela, e Flávio tornou a repetir seu nome.
Ela pensou que fosse desmaiar! Suas pernas estavam bambas, lhe faltava o ar pra respirar.
Então, como se novamente um choque lhe acertasse o corpo, ela não sabe explicar como, nem porque, correu o mais rápido que pôde.
Ela não sabe dizer com certeza, mas acha que ainda ouviu Flávio dizer um “espera!”, mas não sabe se foi um delírio ou se foi realidade.
Entrou em casa quase em fôlego. Dora se assustou:
- O que foi minha filha?
- Nossa, mãe, tinha um bicho muito grande perto da Igreja. Acho que foi o mesmo que atacou a salinha das aulas de artesanato. Desculpa mãe, fiquei com medo e voltei correndo, nem peguei o remédio!
- Nossa, que medo! Não tem problema minha filha! Vou falar com o padre...
- Não! Não precisa! Vai que esse bicho machuca alguém... Deixa como está.
Flávio estava rindo à toa. Estava deitado na cama lembrando da trombada que deu com Marcela.
“Ela é real! Como isso pôde acontecer? Como eu pude sonhar com alguém que nem sabia que existia? Eu tenho que falar com ela! E sei como...”.
- Porque você veio? – perguntou Marcela.
- Eu vim à trabalho. – respondeu Flávio, querendo abraçá-la.
- Não! – Marcela o empurrou – Por favor, não me toque.
- Queria te pedir desculpas.
- Desculpas? Você sumiu, fiquei mais de um mês vindo aqui todos os dias, esperando loucamente te encontrar. Pensei que você tivesse morrido...
- Mas eu quase morri! Foi você quem me salvou.
- Você jurou que tudo isso era um sonho! – Marcela se exalta.
- Mas eu achava que fosse! Veja só: nós não estamos dormindo agora?
- Sim...
- Então! Este lugar que criamos é um sonho. Eu jamais poderia imaginar que você fosse real. Eu achei que você era uma criação minha, a mulher perfeita que eu sempre quis ter ao meu lado.
Marcela fica sem palavras. Ela quer falar, mas tem medo. Prefere deixar Flávio continuar:
- Eu me apaixonei por você, Marcela. Fiquei em dúvida, dividido, porque eu sou casado, você sabe. Não queria trair minha mulher. Mas ao mesmo tempo eu achava que não era uma traição, porque você não existia, você era uma fantasia minha. Mas agora tudo mudou...
- Mudou como? – perguntou Marcela.
- Depois que eu quase morri minha mulher mudou muito. Meus filhos também.
- Então você me esqueceu?
- Não! Eu só não poderia mais ficar com você, sem ficar com peso na consciência. Eu tinha que te contar a verdade, contar o quanto eu te amava, o quanto eu desejava que você fosse real, para que eu pudesse largar tudo e ficar com você!
- Amava... Você não ama mais?
Flávio abaixou a cabeça. Quando a levantou, ele estava em seu quarto, na Casa Paroquial.
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